As doenças periodontais estão muito difundidas entre a população e um grande número de pessoas são afetadas por este tipo de patologias nalgum período da sua vida. O surgimento destas doenças pode dever-se a fatores genéticos ou a outro tipo de doenças que as potencialize; no entanto, em termos gerais, a sua causa principal é o fator humano: má higiene oral, consumo de produtos como o tabaco ou não realização de revisões periódicas no dentista.
O desenvolvimento da doença periodontal pode provocar a perda de inserção e de osso das peças dentárias. É indispensável que todos os dentistas saibam de que forma esta patologia pode desenvolver-se, pois assim será possível trabalhar na implementação de soluções reais e efetivas para os seus pacientes.
O que é a furca em medicina dentária?
Nos dentes multirradiculares, aqueles com mais de duas raízes, a área de onde estas divergem é designada pelo termo “furca”. O progresso da periodontite causa o que é conhecido como lesão de furca, que aparece na área referida. Em geral, os locais mais afetados são os primeiros molares inferiores; os menos afetados correspondem aos pré-molares superiores.
No entanto, o aparecimento desta patologia nem sempre se deve à doença periodontal; também pode surgir como resultado de traumatismo dentário, fratura ou dano resultante de outro tratamento mal realizado.
Este tipo de afeções constituem um desafio para o médico dentista, visto que se trata de uma zona complexa que depende em grande medida das características anatómicas do paciente, além de que podem ocorrer diversas respostas ao tratamento.
Anatomia da furca dentária
Para realizar o procedimento adequado a cada caso, é fundamental conhecer o progresso da doença periodontal e a anatomia radicular de cada dente.
Os dentes multirradiculares apresentam o seguinte:
- Complexo radicular. É o nome pelo qual é conhecida a região que vai da junção amelo-cementária até o final de cada raiz.
- Tronco radicular. Mais fundo na anatomia do dente, o tronco radicular abrange toda a zona não dividida da raiz.
- Entrada da furca. Trata-se da região onde começa a furca. É uma área que serve de transição entre o tronco e as próprias raízes dentárias. É coroada pelo teto ou fórnix, termos que designam a parte superior da bifurcação.
- Cone radicular. Marca a origem da raiz do dente. A zona entre os seus cones é o que designamos por “furca”.
- Ângulo de separação das raízes. Também conhecido como ângulo de divergência. Dependendo da área de separação entre umas raízes e outras, podemos falar de um ângulo positivo (raízes divergentes) ou negativo (fusão de raízes).
- Coeficiente de separação. É o comprimento das raízes em relação ao comprimento do complexo radicular.
Classificação das lesões de furca
Há vários sistemas de classificação das lesões de furca, que se baseiam, normalmente, no grau de penetração da sonda periodontal tanto vertical como horizontalmente. Apesar de tudo, a classificação mais difundida em termos gerais é a de Hamp, Nyman e Lindhe (1975), que efetua a diferenciação em função da quantidade de tecido que foi destruído na área inter-radicular. Isto é, centra-se na quantidade de perda periodontal que ocorreu horizontalmente no complexo radicular.
Distingue três graus:
- Grau I. Indica uma perda horizontal que não excede um terço da largura do dente.
- Grau II. Este grau corresponde às perdas de suporte horizontal superiores a 3 milímetros, mas que não chegam a atravessar ou abarcar a totalidade da área de furca.
- Grau III. Refere-se à destruição horizontal de um lado ao outro da área de furca.
Tratamento da lesão de furca
No momento de começar o tratamento, é importante ter em conta o grau de afeção da furca. O objetivo, principalmente, será a eliminação da placa da zona até que fique reduzida a quantidades que o paciente possa controlar por si próprio.
Em seguida, são apresentados diferentes tratamentos, dependendo do grau de lesão.
Grau I.
- Raspagem e alisamento radicular. Utilizado sobretudo para resolver a inflamação. Este processo é caracterizado por realizar uma cicatrização que restabelece a anatomia gengival.
- Plastia de furca. Implica a eliminação do tecido dentário (odontoplastia) e uma remodelação da crista alveolar (osteoplastia). A odontoplastia deve ser realizada com cuidado nos dentes vivos, para não provocar hipersensibilidade radicular.
Grau II.
- Plastia de furca.
- Tunelização. Exclusivamente nos dentes inferiores. Consiste num tratamento de toda a área afetada a partir de uma exposição cirúrgica completa. Para a sua realização, deverão ser cumpridos alguns requisitos quanto ao tronco radicular, ao ângulo de separação e à divergência.
- Regeneração tecidular guiada.
Grau III.
- Tunelização.
- Ressecção radicular. Consiste em selecionar e eliminar uma ou duas raízes. É um procedimento indicado principalmente para molares.
Nos casos em que é impossível aplicar um tratamento regenerativo ou de manutenção da peça, ou em que simplesmente conservar o dente representa um fator de risco para o prognóstico a longo prazo, será indicada a extração dentária.