Profilaxia antibiótica em medicina dentária

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As infeções odontogénicas, ou seja, aquelas cuja origem se encontra nas estruturas dentárias e periodontais, geralmente são localizadas e não apresentam demasiada gravidade. No entanto, em algumas ocasiões, pode ocorrer uma disseminação secundária dessas infeções, suscetível de afetar os maxilares e, inclusive, o resto do corpo. As bactérias e os microrganismos, porém, intervêm em muitos dos processos e das patologias da cavidade oral.

A libertação e a presença de bactérias na corrente sanguínea, uma situação conhecida como bacteremia, pode ocorrer, precisamente, como consequência da infeção de alguns tecidos orais. De igual modo, pode surgir após a realização de certos procedimentos e intervenções odontológicas. Neste contexto, os pacientes que apresentam, segundo a avaliação do profissional, um maior risco de sofrer bacteremia devem ser tratados com profilaxia antibiótica.

O que é a profilaxia antibiótica?

A profilaxia antibiótica em medicina dentária baseia-se na administração de antibióticos, antes ou depois de um tratamento ou intervenção odontológica, para prevenir um processo infeccioso, local ou sistémico, e evitar as consequências para a saúde oral e geral do paciente. Embora a bacteremia possa ser evidenciada frequentemente depois de um procedimento odontológico e de uma cirurgia oral, a verdade é que é mais provável que esta situação ocorra devido a ações quotidianas ou patologias como a periodontite.

Em geral, a profilaxia antibiótica será indicada em todos os procedimentos que envolvem a manipulação dos tecidos gengivais ou da zona periapical das peças dentárias, assim como nos casos em que se realize qualquer perfuração da mucosa oral. Alguns dos principais tratamentos bucodentários que requerem profilaxia antibiótica são:

  • As cirurgias orais, incluindo a colocação de implantes dentários e a extração de peças.
  • Os tratamentos periodontais, como as raspagens e os alisamentos radiculares, a manutenção periodontal, a sondagem e a irrigação subgengival.
  • O tratamento de canais, conhecido como endodontia.
  • A cirurgia periapical
  • As intervenções prolongadas que se realizem com menos de 15 dias de intervalo.

Em geral, a profilaxia antibiótica é indicada quando existe um risco considerável de infeção durante uma intervenção cirúrgica. Essa situação pode acontecer devido às características da própria operação ou, pelo contrário, às condições apresentadas pelo paciente. Em todo o caso, a decisão sobre a adequação da profilaxia cabe ao médico dentista, que deve avaliar o risco em função da intervenção, do dano e da probabilidade de o paciente sofrer tal dano. Por conseguinte, embora existam certos grupos que, geralmente, requerem profilaxia antibiótica, a escolha e a abordagem são subjetivas.

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Que pacientes requerem profilaxia antibiótica?

O objetivo da profilaxia antibiótica é prevenir, na medida do possível, o desenvolvimento de endocardite infecciosa, além da disseminação bacteriana que possa causar uma infeção noutras partes do organismo. Na medicina dentária, é indicada, portanto, em todos os pacientes que apresentam um alto risco de infeção face a um procedimento dentário. Por exemplo, aqueles com os problemas seguintes:

  • Diabetes mellitus tipo 1.
  • Cardiopatia congénita.
  • Válvulas cardíacas protésicas.
  • Endocardite infecciosa prévia.
  • Imunossupressão, provocada por algumas doenças como a Sida, por radioterapia, transplantes ou certos medicamentos.
  • Artropatias inflamatórias, como artrite reumatoide ou lúpus eritematoso sistémico.

No caso de pacientes saudáveis, o médico dentista avaliará, em qualquer caso, o risco da intervenção, sendo a profilaxia antibiótica recomendada em situações como a cirurgia de dentes inclusos, a cirurgia periapical, a cirurgia maxilofacial, os procedimentos de implantologia oral, os enxertos ósseos ou a cirurgia de tumores benignos.

Profilaxia antibiótica em diabéticos

Os pacientes com diabetes mellitus tipo 1 apresentam um maior risco de sofrer uma infeção local ou sistémica durante ou após intervenções dentárias. Por isso, é importante que o médico dentista tenha conhecimentos sobre os problemas endócrinos e metabólicos, assim como sobre os cuidados exigidos por este grupo de pacientes.

Em geral, os diabéticos apresentam maior predisposição para o desenvolvimento de patologias periodontais, cárie, xerostomia ou lesões por Candida. A gengivite e a periodontite, por sua vez, podem afetar o controlo da glicemia e piorar a doença. A diabetes envolve uma circulação mais lenta do sangue nos vasos sanguíneos, de forma que tem um impacto sobre o transporte de oxigénio e de resíduos do corpo. Assim, é maior a possibilidade de sofrer uma infeção gengival.

Um nível elevado de glicose, além disso, pode favorecer a proliferação de bactérias e, portanto, provocar situações de bacteremia. Ou seja, uma maior glicemia significa que existe um risco aumentado de desenvolver certas complicações na fase posterior a uma intervenção dentária.

Profilaxia antibiótica em crianças

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A maioria das infeções odontogénicas que ocorrem durante a infância tendem a drenar de forma espontânea. Do mesmo modo, os procedimentos bucodentários invasivos em crianças, na maioria dos casos, podem causar uma bacteremia transitória. No entanto, uma higiene oral deficiente ou insuficiente, assim como o consumo excessivo de produtos açucarados, podem levar a um aumento do número de bactérias presentes na cavidade oral. Esta situação, por sua vez, representa um maior risco de bacteremia depois de procedimentos orais.

O médico dentista deve, em qualquer caso, avaliar diversos aspetos antes de indicar a profilaxia antibiótica em crianças, tais como:

  • A gravidade da infeção existente na cavidade oral e o estado das defesas da criança.
  • Se ocorre uma infeção numa criança que se encontra medicamente comprometida.
  • Se o processo infeccioso envolve inflamação da zona, progrediu rapidamente, apresenta dor moderada ou intensa ou se a criança tem febre, devem ser administrados antibióticos antes de realizar o tratamento apropriado para reabilitar a peça dentária danificada.
  • Perante uma infeção que se espalhou para os espaços faciais fora da cavidade oral, deve-se ter presente que, provavelmente, as defesas não podem controlá-la.
  • A profilaxia antibiótica não é recomendada, em geral, para traumatismos ligeiros. No entanto, nos casos em que há danos significativos nos tecidos moles ou dentoalveolares, a profilaxia é necessária para evitar uma possível infeção.
  • O tratamento de doenças periodontais pode exigir a toma de antibióticos.
  • Se for necessário realizar uma exodontia (extração de um dente), uma pulpotomia ou uma endodontia em peças definitivas, o médico dentista pode considerar a não administração de antibióticos. No entanto, se a criança apresentar imunossupressão ou qualquer patologia cardíaca, pode ser indicada profilaxia antibiótica.

Profilaxia antibiótica em cirurgia oral

A profilaxia antibiótica é indicada nos tratamentos que requerem cirurgia oral, para que se possa prevenir o aparecimento de infeções. Mediante a toma de antibióticos, é possível criar uma maior resistência aos microrganismos que podem proliferar e disseminar-se pelo resto do organismo. Após procedimentos de cirurgia oral, no entanto, a taxa de infeção é baixa, pelo que muitos pacientes saudáveis podem não precisar de tratamento antibiótico profilático. No entanto, este deve ser utilizado segundo a avaliação do médico dentista e, em qualquer caso, nos pacientes de risco.

Na extração de dentes do siso, a profilaxia antibiótica é recomendada, em muitos casos, para reduzir significativamente a possibilidade de sofrer complicações pós-cirúrgicas, como dor, dificuldades na cicatrização da ferida, tumefacção ou trismo. Por seu lado, no caso dos procedimentos de implantologia oral, não há evidências para recomendar ou desaconselhar o uso de antibióticos, razão pela qual, em qualquer caso, será o médico dentista que terá de avaliar o caso concreto de cada paciente.

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